- *Fiu*
- Foooooi.
- *Vrum*
- Saiu ontem, moleque?
- Nada, cansado demais. Tu?
- Também. Mas a Marta pegou um filme muito bom...
- *Fiuí* *Fiiiiu*
- Vaaaaai.
- *Vrum*
- Foi foi foi!
- Que filme?
- Peraí.
- *Fiu*
- Segura!
- Segura!
- *Fiuíí*
- Foooooi!
- 'Aprendendo o amor'. Tem uma guria meio louca, começa a ir na psicóloga. Po, muito bom.
- Credo, que história chata.
- É legal, mas eu não sei explicar.
- E como vai a vida de casal com a Marta?
- Pera.
- *Fiu*
- Segura!
- Vaaaaaai.
- *Vrum*
- Tá bem. Mas ela tá com uns problemas.
- Que tipo?
- Tu sabe que tipo.
- Nossa, já começou?
- *fiu* *fiu*
- Dá tempo! Tem que tem!
- Segura!
- Segura!
- Foooooi.
- Já. Mas acho que dessa vez vai rolar.
- Ah cara, to torcendo. Mas...
- Eu sei, não se iludir. Já cansei de ouvir isso.
- É.
- Dessa vez vai rolar, ela é diferente.
- Sérião?
- Sérião, rapaz. To te dizendo.
- Não fui eu mesmo que te disse isso sobre a Carla?
- *Fiu*
- Fooooooi.
- Foi mas a Carla era uma idiota.
- Ô, não precisa ofender.
- Não, ela era idiota, não tu rapaz.
- ...
- Por isso ela foi embora, desencana. Só mulher idiota abandona homem de valor como tu.
- Ô irmão, não fala assim que eu até me emociono... valeu.
- Putz, chegamo no Mc. Haha...
- *suspiro*
- *Fiu*
- Segura!
- Seguuuura!
- Seguraaa!
- Segura tonhão!
- Fooooooooooooi!
- Ela é diferente mesmo?
- Ahan. Quando a mãe dela perguntou o que eu fazia...
- Ih, já vi...
- ... ela mesma se antecipou e respondeu por mim. Falou "é lixeiro" sorrindo, e me olhou com orgulho.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Telefone.
- Estou com um problema.
- Tu tá cheio de problemas, cara.
- Pára de palhaçada, não consegue entender uma frase séria?
- Mas eu também falei sério.
- Não to cheio de problemas.
- Tá bom, relaxa bruxo. Falaí, o que há?
- É o telefone.
- Tá sem crédito? Te empresto grana.
- Não to falando do celular.
- Ah, cortaram tua linha residencial? Eu te empresto uma graninha cara.
- NINGUÉM CORTOU NADA.
- Então o que? O que tem o telefone?
- Não to conseguindo discar.
- ?!
- ...
- Tu não disse que tinha largado o fumo?
- Sim, por que?
- Sei lá, tá parecendo que fumou.
- Não. Eu não consigo discar porque a partir dos primeiros 4 digitos, eu mudo o destino.
- Como assim, cara?
- Eu digito os 4 primeiros dígitos, e aqueles barulhinhos de quando apertamos cada tecla, parecem tanto começar uma musica... Cada vez que vou telefonar, ao invés de terminar o número, eu tento continuar a musica que pareceu começar.
- Hehehehe!!!
- ?
- O que? É sério?
- Sim.
- Caraca, bruxo. Mas não consegue resistir?
- Não. Mas não é só isso.
- SÓ? Tu tá completamente pirado e ainda diz "só" ?!
- Tem uma música que eu gosto muito.
- Ah bom, isso sim. Eu também, sabe aquela do Iron Maiden, do album...
- Eu to falando do telefone.
- Que?
- Musica. Musica do telefone.
- Que musica?
- Uma que eu aprendi a fazer nas teclas. Uma vez eu fui discar, e fiz essa canção.
- E como ela é?
- É linda. Mas...
- Mas o que?
- Tem outro problema.
- VIU? E depois fica brabo comigo quando eu digo que tá cheio de problemas!
- Na primeira vez que fiz essa música, achei tão linda que não desliguei o telefone. Fiquei parado, inerte, hipnotizado. Fui interrompido por uma voz.
- Hehehe que sarro, esqueceu de desligar antes de completar a chamada. E aí, quem era?
- Não sei. Mas a voz era mais bonita que a própria música.
- Aaaah malandrinhooo, está de namorico! Heeehe
- Dá pra gritar mais alto?
- O que? Gritar aqui?
- Não, não. Esquece. Não estou de "namorico". Estou com um problema.
- Quer cigarro?
- Não. A cada vez que vou digitar um número no telefone, eu tento fazer uma música que seja mais bela do que aquela. Não consigo mais discar.
- E por que quer isso?
- Porque preciso.
- Precisa do que, bagual?
- Preciso de uma música mais bonita que aquela.
- PRA QUE??
- Pra esquecer aquela voz.
- ...
- ...
- Tu fala com ela?
- Ontem eu falei.
- Ontem? E desde quando tem ligado pra ela?
- ...
- Só ontem, bagual?! E falou o que?
- Disse oi.
- É um bom começo, hehehe.
- E em seguida digitei a música no teclado.
- PUTA MERDA. Tinha que estragar tudo no primeiro encontro? Parece que bebe.
- Ela não entendeu a música, e se irritou, ficando em silêncio.
- Mas é óbvio que ela não entendeu, burrão, esse sonzinho dos botões do telefone variam de aparelho pra aparelho. Não que ela fosse entender caso o som fosse o mesmo, mas ainda pior já que não era.
- Como sabe disso?
- Já trabalhei com suporte de telefonia.
- Preciso criar uma nova música.
- Eu tenho a solução.
- Tu nunca tem soluções.
- Affe, claro que tenho.
- Quero ver.
- Telefone sem fio.
- ?
- No telefone sem fio, o teclado é nele mesmo. Tu não vai conseguir discar e ouvir direito o som da tecla ao mesmo tempo. Vai ter que discar como gente normal.
- Então quer dizer que ela não ouviu a música de verdade?
- Não, não ouviu, e esquece isso cara. Você não precisa mostrar isso pra ela. Você não precisa fazer música no telefone.
- ...
- Pra que quer tanto fazer musica no telefone?
- Porque foi o único instrumento que consegui tocar.
- Uma criança com um pianinho de brinquedo faz igual ou melhor.
- Mas não escutaria aquela voz.
- Era tão bonita assim?
- Sim.
- Qual o número dela?
- Pra que quer saber??
- Quero tentar fazer a musica.
- Não, você quer falar com ela!
- Pára seu bagual. Não sou teu amigo então?
- ...
- Agora eu quero ouvir essa música. Deixa eu tentar aqui cara.
- *suspiro*. Ok, é esse.
- Hehe, cara, não é que a música é massa?! :O
- Te disse.
- Mas bruxo...
- Que?
- Esse número não existe.
- Tu tá cheio de problemas, cara.
- Pára de palhaçada, não consegue entender uma frase séria?
- Mas eu também falei sério.
- Não to cheio de problemas.
- Tá bom, relaxa bruxo. Falaí, o que há?
- É o telefone.
- Tá sem crédito? Te empresto grana.
- Não to falando do celular.
- Ah, cortaram tua linha residencial? Eu te empresto uma graninha cara.
- NINGUÉM CORTOU NADA.
- Então o que? O que tem o telefone?
- Não to conseguindo discar.
- ?!
- ...
- Tu não disse que tinha largado o fumo?
- Sim, por que?
- Sei lá, tá parecendo que fumou.
- Não. Eu não consigo discar porque a partir dos primeiros 4 digitos, eu mudo o destino.
- Como assim, cara?
- Eu digito os 4 primeiros dígitos, e aqueles barulhinhos de quando apertamos cada tecla, parecem tanto começar uma musica... Cada vez que vou telefonar, ao invés de terminar o número, eu tento continuar a musica que pareceu começar.
- Hehehehe!!!
- ?
- O que? É sério?
- Sim.
- Caraca, bruxo. Mas não consegue resistir?
- Não. Mas não é só isso.
- SÓ? Tu tá completamente pirado e ainda diz "só" ?!
- Tem uma música que eu gosto muito.
- Ah bom, isso sim. Eu também, sabe aquela do Iron Maiden, do album...
- Eu to falando do telefone.
- Que?
- Musica. Musica do telefone.
- Que musica?
- Uma que eu aprendi a fazer nas teclas. Uma vez eu fui discar, e fiz essa canção.
- E como ela é?
- É linda. Mas...
- Mas o que?
- Tem outro problema.
- VIU? E depois fica brabo comigo quando eu digo que tá cheio de problemas!
- Na primeira vez que fiz essa música, achei tão linda que não desliguei o telefone. Fiquei parado, inerte, hipnotizado. Fui interrompido por uma voz.
- Hehehe que sarro, esqueceu de desligar antes de completar a chamada. E aí, quem era?
- Não sei. Mas a voz era mais bonita que a própria música.
- Aaaah malandrinhooo, está de namorico! Heeehe
- Dá pra gritar mais alto?
- O que? Gritar aqui?
- Não, não. Esquece. Não estou de "namorico". Estou com um problema.
- Quer cigarro?
- Não. A cada vez que vou digitar um número no telefone, eu tento fazer uma música que seja mais bela do que aquela. Não consigo mais discar.
- E por que quer isso?
- Porque preciso.
- Precisa do que, bagual?
- Preciso de uma música mais bonita que aquela.
- PRA QUE??
- Pra esquecer aquela voz.
- ...
- ...
- Tu fala com ela?
- Ontem eu falei.
- Ontem? E desde quando tem ligado pra ela?
- ...
- Só ontem, bagual?! E falou o que?
- Disse oi.
- É um bom começo, hehehe.
- E em seguida digitei a música no teclado.
- PUTA MERDA. Tinha que estragar tudo no primeiro encontro? Parece que bebe.
- Ela não entendeu a música, e se irritou, ficando em silêncio.
- Mas é óbvio que ela não entendeu, burrão, esse sonzinho dos botões do telefone variam de aparelho pra aparelho. Não que ela fosse entender caso o som fosse o mesmo, mas ainda pior já que não era.
- Como sabe disso?
- Já trabalhei com suporte de telefonia.
- Preciso criar uma nova música.
- Eu tenho a solução.
- Tu nunca tem soluções.
- Affe, claro que tenho.
- Quero ver.
- Telefone sem fio.
- ?
- No telefone sem fio, o teclado é nele mesmo. Tu não vai conseguir discar e ouvir direito o som da tecla ao mesmo tempo. Vai ter que discar como gente normal.
- Então quer dizer que ela não ouviu a música de verdade?
- Não, não ouviu, e esquece isso cara. Você não precisa mostrar isso pra ela. Você não precisa fazer música no telefone.
- ...
- Pra que quer tanto fazer musica no telefone?
- Porque foi o único instrumento que consegui tocar.
- Uma criança com um pianinho de brinquedo faz igual ou melhor.
- Mas não escutaria aquela voz.
- Era tão bonita assim?
- Sim.
- Qual o número dela?
- Pra que quer saber??
- Quero tentar fazer a musica.
- Não, você quer falar com ela!
- Pára seu bagual. Não sou teu amigo então?
- ...
- Agora eu quero ouvir essa música. Deixa eu tentar aqui cara.
- *suspiro*. Ok, é esse.
- Hehe, cara, não é que a música é massa?! :O
- Te disse.
- Mas bruxo...
- Que?
- Esse número não existe.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Boa noite
- Não me interesso mais por esse mundo. Não tenho mais ambição de ser o mocinho de um filme que nunca entrará em cartaz, com atores desconhecidos que nunca se preocuparam em ouvir o diretor da obra. Tenho saudade de qualquer outra coisa, de qualquer outro mundo que lembro dele mesmo sem lembrar, a cada amanhecer de céu aberto e a cada luar de noite fria. Lupicínio escreveu que não se deve sepultar o coração quando se perde a ilusão, mesmo que o ou a personagem da letra tenha sepultado. Gostaria de sepultar o meu, pois dele tenho dó da nostalgia que sente daquilo que sequer viu em vida. Tenho dó como teria de um bichano faminto e magrelo que sussurra ruídos para que alguém o escute em sua agonia. Me deixem esvaziar esses olhos tristes de lágrimas, jogá-las pra fora como o nauseado joga o vômito e assim se alivia por não ter de carregar mais aquilo que seu organismo não pode suportar. Me deixem fraquejar diante da dor que é a maior das dores e que não se sente no corpo, pois dos poucos direitos que restaram à alma em um mundo de carcaças é o de sofrer quando é preciso sofrer. Como a natureza sofre quando é preciso sofrer. Me deixem sentir, com sinceridade ou não, que minha controversa vida chegou ao fim antes de terminar. Que a esperança nem sempre é a última que morre, pois pode deixar viúvo o peito ainda pulsando sem saber sequer pelo que pulsa. Não quero anestesiar-me nessa embriaguez contra a qual sempre lutei, mas frente a qual tenho de render-me pela ausência de tropas de coalisão cujos soldados se retiraram por falta de mantimentos. Mas aguardo que o oculto General deste exército volte a se manifestar, se ainda ele acreditar em qualquer chance de vitória.
- Boa noite. Boa noite. O índice Bovespa operou em queda de 1,77% nesta sexta-feira...
- Boa noite. Boa noite. O índice Bovespa operou em queda de 1,77% nesta sexta-feira...
sábado, 9 de outubro de 2010
Ainda sobre estrelas.
- Gosto das estrelas.
- Eu também, elas representam mistérios. São misteriosas.
- Uhum.
- Mas umas são mais misteriosas.
- Quais?
- As gêmeas.
- Que gêmeas?
- Você precisa olhar com muita atenção. Vai perceber que existem alguns pares bem juntinhos.
- Nunca vi. Onde tem?
- Eu to vendo agora, mas é difícil enxergar. São tão próximas...
- Xo ver se encontro...
- O interessante é que todos os corpos celestes estão em movimento. Nós aqui nesse planeta, estamos em altíssima velocidade. Não percebemos porque a gravidade nos prende e a atmosfera impede que o deslocamento seja percebido. Mas estamos em alta velocidade.
- Isso eu sei, tudo gira ao redor de algo.
- Exato. E as estrelas gêmeas, além de girarem ao redor do eixo de sua galáxia, giram em torno de si mesmas.
- Como você sabe?
- E fazem isso porque subiram juntas ao céu.
- Eu fiz uma pergunta. Como voc.. Ei, como assim subiram?
- Subiram. São almas que atingiram um nível de desenvolvimento tão alto, que subiram ao mundo em que você se torna uma estrela. Assim como a gente nasce aqui como bebês, essas almas nascem lá como estrelas.
- E onde entram as estrelas gêmeas, que eu até agora não achei nenhuma?
- Quando duas almas sobem juntas, elas ganham corpos de estrelas gêmeas.
- Como você sabe??
- Elas estão lá. Tá vendo a luz vermelha do prédio? Conta 2 bandeiras do Brasil pra cima.
- Bandeiras podem ter diferentes tamanhos, e aliás is...
- Que?
- Vi.
- As gêmeas?
- Uhum.
- Viu como ficam quase grudadas?
- Quase.
- O mais importante é que se elas pararem de girar uma em torno da outra, desequilibram toda a galáxia a que pertencem.
- Mas nunca param.
- Nunca.
- Também quero ser estrela.
- Se parassem, todos os corpos celestes que dependem desta força de movimento acabar...
- TAMBÉM QUERO SER ESTRELA.
- Quê?
- Quero ser.
- Mas não é assim, existe um longo caminho até um est...
- QUERO SER.
- Que? Ah. Tá, olha aqui. Pega isso aqui.
- Pra que?
- Escreve nessa folha de papel o porquê de querer ser uma estrela. Isso na frente. No verso, escreve porque ainda não pode ser uma.
- Ué, como vou saber por que não posso ser uma?
- Ouça a intuição.
- Tá.
- Ok.
-
- Já?
- Não, né. Não é todo dia que a gente se candidata a ser um corpo silvestre.
- Celeste.
-
- Já?
- Não.
-
- Já?
- NÃO-Ô.
- Larari...
- Deu.
- Ok, me mostra.
- Mostra a cacilda. Não escrevi pra ti.
- Mas eu posso te dizer o que está certo ou não para ser uma estrela.
- Como? Como sabe??
- Deixa eu ver.
- Não deixo. Se você sabe tanto, por que não é uma estrela já?
- Deixa eu ver, vai.
- Não! Toma isso aqui.
- Que?
- Escreve aqui o que tu precisa pra ser uma estrela. E dê nomes.
- Eu também, elas representam mistérios. São misteriosas.
- Uhum.
- Mas umas são mais misteriosas.
- Quais?
- As gêmeas.
- Que gêmeas?
- Você precisa olhar com muita atenção. Vai perceber que existem alguns pares bem juntinhos.
- Nunca vi. Onde tem?
- Eu to vendo agora, mas é difícil enxergar. São tão próximas...
- Xo ver se encontro...
- O interessante é que todos os corpos celestes estão em movimento. Nós aqui nesse planeta, estamos em altíssima velocidade. Não percebemos porque a gravidade nos prende e a atmosfera impede que o deslocamento seja percebido. Mas estamos em alta velocidade.
- Isso eu sei, tudo gira ao redor de algo.
- Exato. E as estrelas gêmeas, além de girarem ao redor do eixo de sua galáxia, giram em torno de si mesmas.
- Como você sabe?
- E fazem isso porque subiram juntas ao céu.
- Eu fiz uma pergunta. Como voc.. Ei, como assim subiram?
- Subiram. São almas que atingiram um nível de desenvolvimento tão alto, que subiram ao mundo em que você se torna uma estrela. Assim como a gente nasce aqui como bebês, essas almas nascem lá como estrelas.
- E onde entram as estrelas gêmeas, que eu até agora não achei nenhuma?
- Quando duas almas sobem juntas, elas ganham corpos de estrelas gêmeas.
- Como você sabe??
- Elas estão lá. Tá vendo a luz vermelha do prédio? Conta 2 bandeiras do Brasil pra cima.
- Bandeiras podem ter diferentes tamanhos, e aliás is...
- Que?
- Vi.
- As gêmeas?
- Uhum.
- Viu como ficam quase grudadas?
- Quase.
- O mais importante é que se elas pararem de girar uma em torno da outra, desequilibram toda a galáxia a que pertencem.
- Mas nunca param.
- Nunca.
- Também quero ser estrela.
- Se parassem, todos os corpos celestes que dependem desta força de movimento acabar...
- TAMBÉM QUERO SER ESTRELA.
- Quê?
- Quero ser.
- Mas não é assim, existe um longo caminho até um est...
- QUERO SER.
- Que? Ah. Tá, olha aqui. Pega isso aqui.
- Pra que?
- Escreve nessa folha de papel o porquê de querer ser uma estrela. Isso na frente. No verso, escreve porque ainda não pode ser uma.
- Ué, como vou saber por que não posso ser uma?
- Ouça a intuição.
- Tá.
- Ok.
-
- Já?
- Não, né. Não é todo dia que a gente se candidata a ser um corpo silvestre.
- Celeste.
-
- Já?
- Não.
-
- Já?
- NÃO-Ô.
- Larari...
- Deu.
- Ok, me mostra.
- Mostra a cacilda. Não escrevi pra ti.
- Mas eu posso te dizer o que está certo ou não para ser uma estrela.
- Como? Como sabe??
- Deixa eu ver.
- Não deixo. Se você sabe tanto, por que não é uma estrela já?
- Deixa eu ver, vai.
- Não! Toma isso aqui.
- Que?
- Escreve aqui o que tu precisa pra ser uma estrela. E dê nomes.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Nunca vai saber.
- Tá vendo aquela estrela?
- Qual?
- Aquela, olha para o meu dedo.
- To vendo. Tá na hora de cortar as unhas.
- Pra onde está apontando. ¬¬
- Como você espera que eu localize uma estrela seguindo a direção do seu dedo?? Tem muitas estrelas.
- Mas eu estou apontando apenas para uma.
- Tem uma lenda que diz que apontar pra estrela dá verruga.
- Devem ter inventado isso pra desencorajar as pessoas a tentarem dizer às outras que estrela estão vendo.
- É tão importante assim dizer para que estrela estamos olhando?
- Algumas vezes sim. Como agora.
- Por que?
- Porque essa estrela é especial, e eu queria que tu olhasse pra ela. Eu orei à ela pedindo que te mostrasse uma coisa.
- Ah não, agora eu quero ver!! Qual é?
- É estranho isso. Não há como dizermos a alguém para que estrela estamos olhando. A pessoa nunca vai saber.
- Vai sim, ah vai! Tá perto daquela ali?
- Qual?
- Essa que eu to apontando!
- Ué, e a verruga?
- Não importa, é aquela ali que tá piscando em duas cores? Qual é??
- Você nunca vai saber.
- Pára com isso, não diz essas coisas de "nunca".
- :)
- Eu quero saber o que a estrela tem pra me dizer, e é melhor achar uma forma de me mostrar qual é.
- Tá bom. Eu vou fazer uma mágica.
- Que mágica?
- Essa estrela é muito especial. E eu vou pedir que ela apareça amanhã, de dia. Somente ela. No fim da tarde, você irá vê-la. Será a única estrela aparecendo no céu azul do entardecer, portanto você saberá qual é.
- Pára poxa, fala sério.
- É sério, bobinha. A estrela que eu escolhi é o planeta Vênus. Não é estrela mas brilha como uma, e é o único corpo celeste que pode ser visto no nosso céu de dia. Tá vendo lá? É a que mais brilha.
- Nossa... To vendo..
- Viu?
- ...
- Ei?
- ...
- Ei!
- Hum?
- O que há?
- ...
- O que foi que a estrela te mostrou??
- Nunca vai saber.
- Qual?
- Aquela, olha para o meu dedo.
- To vendo. Tá na hora de cortar as unhas.
- Pra onde está apontando. ¬¬
- Como você espera que eu localize uma estrela seguindo a direção do seu dedo?? Tem muitas estrelas.
- Mas eu estou apontando apenas para uma.
- Tem uma lenda que diz que apontar pra estrela dá verruga.
- Devem ter inventado isso pra desencorajar as pessoas a tentarem dizer às outras que estrela estão vendo.
- É tão importante assim dizer para que estrela estamos olhando?
- Algumas vezes sim. Como agora.
- Por que?
- Porque essa estrela é especial, e eu queria que tu olhasse pra ela. Eu orei à ela pedindo que te mostrasse uma coisa.
- Ah não, agora eu quero ver!! Qual é?
- É estranho isso. Não há como dizermos a alguém para que estrela estamos olhando. A pessoa nunca vai saber.
- Vai sim, ah vai! Tá perto daquela ali?
- Qual?
- Essa que eu to apontando!
- Ué, e a verruga?
- Não importa, é aquela ali que tá piscando em duas cores? Qual é??
- Você nunca vai saber.
- Pára com isso, não diz essas coisas de "nunca".
- :)
- Eu quero saber o que a estrela tem pra me dizer, e é melhor achar uma forma de me mostrar qual é.
- Tá bom. Eu vou fazer uma mágica.
- Que mágica?
- Essa estrela é muito especial. E eu vou pedir que ela apareça amanhã, de dia. Somente ela. No fim da tarde, você irá vê-la. Será a única estrela aparecendo no céu azul do entardecer, portanto você saberá qual é.
- Pára poxa, fala sério.
- É sério, bobinha. A estrela que eu escolhi é o planeta Vênus. Não é estrela mas brilha como uma, e é o único corpo celeste que pode ser visto no nosso céu de dia. Tá vendo lá? É a que mais brilha.
- Nossa... To vendo..
- Viu?
- ...
- Ei?
- ...
- Ei!
- Hum?
- O que há?
- ...
- O que foi que a estrela te mostrou??
- Nunca vai saber.
sábado, 4 de setembro de 2010
Porta fechando.
- Porta fechando
- Já reparou como esse aviso da porta dispara quando já não resta nenhuma escolha?
- Oi? Desculpa, estava com fone no ouvido.
- Perguntei se você já reparou que a mulher na caixa de som diz que a porta do ônibus está fechando quando praticamente já fechou.
- Não, nunca tinha reparado. *sorriso amarelo*
- Pois eu sempre reparo. Veja, o único motivo que
- Só um minutinho, celular. Fala. Sim. Uhum. Olha, eu não posso falar direito agora, estou no ônibus. O que?! É claro que estou no ônibus, pelo amor de Deus! Não está ouvindo o barulho? Não, é um ônibus!
- *sussurros* A porta, a porta!
- O que? Ah, espera, escuta...
- Porta fechando
- Ouviu? Estou no ônibus. Isso. Conversamos depois, ok? Beijo. *clac*
- Ele acreditou?
- Oi? Desculpa, o que você estava dizendo?
- Que a mulher no alto-falante avisando o fechamento da porta é inútil, porque a porta já... Olha, observe aquele garoto que vai descer.
- Hum.
- Porta fechando
- Viu??
- O que?
- O aviso, ele chega tarde demais para que alguém indeciso desista de descer. Se alguém ficar preso na porta, vai ficar preso ouvindo o aviso. É tarde demais, tarde demais.
- Não percebi, você disse para observar o garoto. Nem prestei atenção nisso.
- Eu quis dizer que
- Só um pouquinho, celular. Fala. Eu ainda estou no ônibus, não faz nem 1 minuto que você ligou. Não tem ninguém do meu lado. Como assim de onde tirei a idéia? Não, eu não estava conversando com ninguém! *clac* *olhar perdido*
- Talvez o celular não tenha sido tão boa invenção.
- Oi? Desculpa, não estava ouvindo.
- Nada não. Você deve ser uma moça muito ocupada, recebe tantas ligações... *sorriso branco*
- Mais do que gostaria.
- O meu celular quase não toca. Eu uso como relógio e despertador.
- Ninguém telefona pra você?
- Raramente. Bem, ontem acordei com uma SMS. Mas era da operadora oferecendo uma promoção.
- ...
- Porta fechando
- Nossa. Você tem razão.
- Hum? Desculpa, estava pensando.
- Você tem razão, o aviso vem tarde demais. Se alguém dependesse dele para não ficar preso na porta, ficaria preso na porta ou perderia o ponto.
- Exatamente.
- Pra que será que isso existe né?
- Bem, talvez eles tivessem
- Um momento. O que foi? Que?! Pelo amor de Deus, é claro que tem alguém do meu lado, eu estou em um ônibus, cabem duas pessoas em cada banco, você quer que eu deixe minha bolsa do lado para que ninguém sente?? Não, não é um homem, é uma velhinha, estou no banco preferencial. Vai acabar a bateria. *clac*
- Que idade eu aparento?
- *sorriso vermelho* Desculpa, é meu noivo. Ele está me enlouquecendo. Vamos casar semana que vem, e ele surtou em ciúmes.
- Assim, do nada?
- Do nada. Desde quando decidimos casar.
- Ele disse onde estava?
- Sim, em casa. Por que?
- Você tem algum disco de alguma banda na sua casa?
- Tenho vários. Por que?
- Tipo...?
- Vários. Sei lá, Cold Play.
- Não, um menos conhecido.
- Interpol.
- Ótimo. Ligue para ele e peça que coloque o disco do Interpol no som.
- Pra que? Você não tá querendo dizer que.. Alô. Oi. Onde você está? Ok. Pega na minha escrivaninha o CD do Interpol e poe a faixa 7 no som por favor. Porque eu to escrevendo uma resenha sobre a banda e vai demorar pra eu chegar, preciso adiantar o trabalho. Não, ainda tem bateria suficiente. Não precisa procurar, o CD tá em cima do teclado do computador. Que? Ei?
- Algum problema?
- Ele fingiu que a ligação caiu, tenho certeza. Desligou enquanto falava pra parecer que tinha caído.
- ...
- Agora tá ocupado. Afe, mas o que isso significa?!
- Porta fechando
- Que nem todos os avisos chegam tarde demais.
- Já reparou como esse aviso da porta dispara quando já não resta nenhuma escolha?
- Oi? Desculpa, estava com fone no ouvido.
- Perguntei se você já reparou que a mulher na caixa de som diz que a porta do ônibus está fechando quando praticamente já fechou.
- Não, nunca tinha reparado. *sorriso amarelo*
- Pois eu sempre reparo. Veja, o único motivo que
- Só um minutinho, celular. Fala. Sim. Uhum. Olha, eu não posso falar direito agora, estou no ônibus. O que?! É claro que estou no ônibus, pelo amor de Deus! Não está ouvindo o barulho? Não, é um ônibus!
- *sussurros* A porta, a porta!
- O que? Ah, espera, escuta...
- Porta fechando
- Ouviu? Estou no ônibus. Isso. Conversamos depois, ok? Beijo. *clac*
- Ele acreditou?
- Oi? Desculpa, o que você estava dizendo?
- Que a mulher no alto-falante avisando o fechamento da porta é inútil, porque a porta já... Olha, observe aquele garoto que vai descer.
- Hum.
- Porta fechando
- Viu??
- O que?
- O aviso, ele chega tarde demais para que alguém indeciso desista de descer. Se alguém ficar preso na porta, vai ficar preso ouvindo o aviso. É tarde demais, tarde demais.
- Não percebi, você disse para observar o garoto. Nem prestei atenção nisso.
- Eu quis dizer que
- Só um pouquinho, celular. Fala. Eu ainda estou no ônibus, não faz nem 1 minuto que você ligou. Não tem ninguém do meu lado. Como assim de onde tirei a idéia? Não, eu não estava conversando com ninguém! *clac* *olhar perdido*
- Talvez o celular não tenha sido tão boa invenção.
- Oi? Desculpa, não estava ouvindo.
- Nada não. Você deve ser uma moça muito ocupada, recebe tantas ligações... *sorriso branco*
- Mais do que gostaria.
- O meu celular quase não toca. Eu uso como relógio e despertador.
- Ninguém telefona pra você?
- Raramente. Bem, ontem acordei com uma SMS. Mas era da operadora oferecendo uma promoção.
- ...
- Porta fechando
- Nossa. Você tem razão.
- Hum? Desculpa, estava pensando.
- Você tem razão, o aviso vem tarde demais. Se alguém dependesse dele para não ficar preso na porta, ficaria preso na porta ou perderia o ponto.
- Exatamente.
- Pra que será que isso existe né?
- Bem, talvez eles tivessem
- Um momento. O que foi? Que?! Pelo amor de Deus, é claro que tem alguém do meu lado, eu estou em um ônibus, cabem duas pessoas em cada banco, você quer que eu deixe minha bolsa do lado para que ninguém sente?? Não, não é um homem, é uma velhinha, estou no banco preferencial. Vai acabar a bateria. *clac*
- Que idade eu aparento?
- *sorriso vermelho* Desculpa, é meu noivo. Ele está me enlouquecendo. Vamos casar semana que vem, e ele surtou em ciúmes.
- Assim, do nada?
- Do nada. Desde quando decidimos casar.
- Ele disse onde estava?
- Sim, em casa. Por que?
- Você tem algum disco de alguma banda na sua casa?
- Tenho vários. Por que?
- Tipo...?
- Vários. Sei lá, Cold Play.
- Não, um menos conhecido.
- Interpol.
- Ótimo. Ligue para ele e peça que coloque o disco do Interpol no som.
- Pra que? Você não tá querendo dizer que.. Alô. Oi. Onde você está? Ok. Pega na minha escrivaninha o CD do Interpol e poe a faixa 7 no som por favor. Porque eu to escrevendo uma resenha sobre a banda e vai demorar pra eu chegar, preciso adiantar o trabalho. Não, ainda tem bateria suficiente. Não precisa procurar, o CD tá em cima do teclado do computador. Que? Ei?
- Algum problema?
- Ele fingiu que a ligação caiu, tenho certeza. Desligou enquanto falava pra parecer que tinha caído.
- ...
- Agora tá ocupado. Afe, mas o que isso significa?!
- Porta fechando
- Que nem todos os avisos chegam tarde demais.
sábado, 1 de novembro de 2008
Cicatriz
- Sabe, tem uma coisa que há muito tempo eu quero te dizer.
- Ah não, pode parar! Não quero ouvir.
- ?
- Não quero ouvir nada que tenha se mantido oculto por muito tempo.
- Agora eu já disse que tenho algo a dizer. Agora eu preciso dizer.
- Não diga.
- Agora eu PRE-CI-SO.
- Tá bom.
- ...
- ...?
- Agora não consigo mais.
- Ótimo.
- Estava brincando. Não tenho nada a dizer.
- Hum.
- Te enganei, hein?
- Na verdade, está tentando me enganar.
- Eu?
- Sim. O que é que irias dizer?
- Mas tu disse que não queria ouvir.
- A-há! Viu como tinha algo?
- É claro que havia, e há. Mas eu tentei amenizar as coisas, já que tu disse que não queria ouvir nada.
- Agora eu quero.
- Por que antes não queria?
- Porque eu detesto saber de coisas que deveriam ter sido ditas há muito tempo.
- Trauma?
- Não interessa.
- É trauma.
- Falou o "psicólogo".
- Como se precisasse ser...
- Meus pais demoraram 10 anos pra me dizer que eu fui adotada.
- Puxa, então tu és adotada?
- Sim. E demoraram a me dizer.
- Talvez porque se dissessem antes, tu perguntaria "o que é adotada?".
- Perguntaria, e bastaria explicar.
- Talvez tu reagisse mal à explicação.
- Bastaria continuar explicando.
- Talvez tua reação fosse tão ruim, que não seria possível sequer continuar convivendo.
- Bastaria ter um pouco de...
- Chega!
- ...
- É isso! Queira ou não, algumas coisas são como a cerveja: elas precisam de algum tempo fermentando para se tornarem essa deliciosa bebida.
- Detesto cerveja, ué.
- O vinho também é assim.
- Hum.
- Entendeu?
- Diga logo o que é que queria me dizer.
- Tá vendo essa cicatriz?
- To. Teu umbigo é uma graça.
- Foi tu que fez.
- Quê?
- Tu tinha só 3 aninhos. Eu tinha 6.
- ??
- Aquele orfanato era uma droga, né?
- Ah não, pode parar! Não quero ouvir.
- ?
- Não quero ouvir nada que tenha se mantido oculto por muito tempo.
- Agora eu já disse que tenho algo a dizer. Agora eu preciso dizer.
- Não diga.
- Agora eu PRE-CI-SO.
- Tá bom.
- ...
- ...?
- Agora não consigo mais.
- Ótimo.
- Estava brincando. Não tenho nada a dizer.
- Hum.
- Te enganei, hein?
- Na verdade, está tentando me enganar.
- Eu?
- Sim. O que é que irias dizer?
- Mas tu disse que não queria ouvir.
- A-há! Viu como tinha algo?
- É claro que havia, e há. Mas eu tentei amenizar as coisas, já que tu disse que não queria ouvir nada.
- Agora eu quero.
- Por que antes não queria?
- Porque eu detesto saber de coisas que deveriam ter sido ditas há muito tempo.
- Trauma?
- Não interessa.
- É trauma.
- Falou o "psicólogo".
- Como se precisasse ser...
- Meus pais demoraram 10 anos pra me dizer que eu fui adotada.
- Puxa, então tu és adotada?
- Sim. E demoraram a me dizer.
- Talvez porque se dissessem antes, tu perguntaria "o que é adotada?".
- Perguntaria, e bastaria explicar.
- Talvez tu reagisse mal à explicação.
- Bastaria continuar explicando.
- Talvez tua reação fosse tão ruim, que não seria possível sequer continuar convivendo.
- Bastaria ter um pouco de...
- Chega!
- ...
- É isso! Queira ou não, algumas coisas são como a cerveja: elas precisam de algum tempo fermentando para se tornarem essa deliciosa bebida.
- Detesto cerveja, ué.
- O vinho também é assim.
- Hum.
- Entendeu?
- Diga logo o que é que queria me dizer.
- Tá vendo essa cicatriz?
- To. Teu umbigo é uma graça.
- Foi tu que fez.
- Quê?
- Tu tinha só 3 aninhos. Eu tinha 6.
- ??
- Aquele orfanato era uma droga, né?
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Quem sabe...
- Quem me vê, não sabe o quanto sou triste.
- Agora, estou sabendo.
- Só na teoria.
- Agora, sei que é só na teoria.
- Sabe, mas não sente.
- Agora sei disso.
- Pensa que sabe.
- Agora s...
- Deu!
- Sim.
- Que há?
- Quem me ouve, não sabe o quanto sou triste.
- Agora, estou sabendo.
- Só na teoria.
- Agora, sei que é só na teoria.
- Sabe, mas não sente.
- Agora sei disso.
- Pensa que sabe.
- Agora s...
- Deu!
- Sim.
- Que há?
- Quem me ouve, não sabe o quanto sou triste.
sábado, 5 de julho de 2008
Despedida
- Meu Deus, como eu detesto despedidas.
- Bom, todo mundo detesta, né?
- Mas comigo é mais forte.
- Trauma?
- Não sei, mas eu recebo torpedos de angústia em toda e qualquer despedida.
- Nossa, mas quantas despedidas tu faz por ano?
- Por ano?! Por dia.
- Mas nem que fosse guia turístico...
- Não estou me referindo apenas às despedidas de trens e ônibus que partem aplaudidos por lágrimas de saudade antecipada. Eu detesto todas as despedidas.
- Que outras despedidas existem?
- Quando estamos fazendo alguma coisa e alguém diz que vai sair. Quando estamos conversando e alguém diz que precisa ir. Quando alguém diz "boa noite, estou indo dormir".
- Ora, qual o problema de dizer "boa noite" e ir dormir?!
- Eu não suporto. Eu simplesmente não suporto as despedidas.
- Bastaria ir dormir também.
- Sempre fico acordado, observando o sono alheio como um gato observa uma bolinha de gude rolando num chão de madeira. Observo o sono alheio constatando a despedida concretizada, e minha permanência imobilizada.
- Conheço uma excelente psicóloga. (risos)
- ¬¬
- Mas não tens idéia de por que és assim?
- Não sei, é desde pequeno.
- Bom, eu tenho que ir.
- ...
- Brincadeirinha. Só queria ver tua reação.
- Que sadismo.
- Não! Queria ver tua reação para que pudesse ver tua recuperação quando eu dissesse que era brincadeira.
- Quem dera todas as despedidas fossem "brincadeirinhas".
- Ó... Mas olha, despedidas são importantes. Se não existissem despedidas, não existiriam reencontros. Tudo seria um eterno e constante momento imutável. E nós ainda não estamos prontos para esse tipo de realidade eterna. Nós sequer estamos prontos para fazer do casamento, que é um dos maiores símbolos de eternidade na sociedade, algo realmente construtivo. Imagina então...
- Por que não estamos prontos para a eternidade? Eu estou pronto.
- Não tá não.
- Eu estou!
- Na-na-ni-na.
- Quer parar?
- Opa! Eu senti um bom nível de irritação nesse pedido.
- E daí?!
- Se tu entrar na eternidade agora, assim, vai ser um cara irritado pra sempre.
- Não vou. Raiva passa.
- Na eternidade, não passa. Se passar, não faz parte da eternidade.
- Ok, é verdade. Então é isso...
- Isso o que?
- Isso é o que me faz ficar tão angustiado com as despedidas. Não são as despedidas que me ferem.
- O que fere, então?
- O fato de eu não estar pronto para a eternidade. A cada despedida, talvez eu lembre inconscientemente disso.
- Um dia vai estar preparado, não precisa se angustiar, querido.
- Agora era um bom momento pra entrar na eternidade!
- Agora? Por que?
- Eu ficaria eternamente te adorando.
- E ficaria eternamente com essa taça de vinho na mão? (risos). Vamos dormir?
- Vamos.
- Mas nada de ficar acordado angustiado observando meu sono.
-
- Que cara é essa?
- Só pensando.
- Em que?
- De fato, eu não estou pronto para a eternidade. Mas...
- Hum...?
- Para o casamento, estou.
- Diz de verdade?
- De verdade.
- Agora sou eu quem não vai dormir!!
- Desculpe dar uma má notícia a essa hora. (risos)
- A notícia mais perfeita do mundo.
- :)
- E melhor ainda que...
- Que...?
- Não haverá despedida de solteiro! :)
- Bom, todo mundo detesta, né?
- Mas comigo é mais forte.
- Trauma?
- Não sei, mas eu recebo torpedos de angústia em toda e qualquer despedida.
- Nossa, mas quantas despedidas tu faz por ano?
- Por ano?! Por dia.
- Mas nem que fosse guia turístico...
- Não estou me referindo apenas às despedidas de trens e ônibus que partem aplaudidos por lágrimas de saudade antecipada. Eu detesto todas as despedidas.
- Que outras despedidas existem?
- Quando estamos fazendo alguma coisa e alguém diz que vai sair. Quando estamos conversando e alguém diz que precisa ir. Quando alguém diz "boa noite, estou indo dormir".
- Ora, qual o problema de dizer "boa noite" e ir dormir?!
- Eu não suporto. Eu simplesmente não suporto as despedidas.
- Bastaria ir dormir também.
- Sempre fico acordado, observando o sono alheio como um gato observa uma bolinha de gude rolando num chão de madeira. Observo o sono alheio constatando a despedida concretizada, e minha permanência imobilizada.
- Conheço uma excelente psicóloga. (risos)
- ¬¬
- Mas não tens idéia de por que és assim?
- Não sei, é desde pequeno.
- Bom, eu tenho que ir.
- ...
- Brincadeirinha. Só queria ver tua reação.
- Que sadismo.
- Não! Queria ver tua reação para que pudesse ver tua recuperação quando eu dissesse que era brincadeira.
- Quem dera todas as despedidas fossem "brincadeirinhas".
- Ó... Mas olha, despedidas são importantes. Se não existissem despedidas, não existiriam reencontros. Tudo seria um eterno e constante momento imutável. E nós ainda não estamos prontos para esse tipo de realidade eterna. Nós sequer estamos prontos para fazer do casamento, que é um dos maiores símbolos de eternidade na sociedade, algo realmente construtivo. Imagina então...
- Por que não estamos prontos para a eternidade? Eu estou pronto.
- Não tá não.
- Eu estou!
- Na-na-ni-na.
- Quer parar?
- Opa! Eu senti um bom nível de irritação nesse pedido.
- E daí?!
- Se tu entrar na eternidade agora, assim, vai ser um cara irritado pra sempre.
- Não vou. Raiva passa.
- Na eternidade, não passa. Se passar, não faz parte da eternidade.
- Ok, é verdade. Então é isso...
- Isso o que?
- Isso é o que me faz ficar tão angustiado com as despedidas. Não são as despedidas que me ferem.
- O que fere, então?
- O fato de eu não estar pronto para a eternidade. A cada despedida, talvez eu lembre inconscientemente disso.
- Um dia vai estar preparado, não precisa se angustiar, querido.
- Agora era um bom momento pra entrar na eternidade!
- Agora? Por que?
- Eu ficaria eternamente te adorando.
- E ficaria eternamente com essa taça de vinho na mão? (risos). Vamos dormir?
- Vamos.
- Mas nada de ficar acordado angustiado observando meu sono.
-
- Que cara é essa?
- Só pensando.
- Em que?
- De fato, eu não estou pronto para a eternidade. Mas...
- Hum...?
- Para o casamento, estou.
- Diz de verdade?
- De verdade.
- Agora sou eu quem não vai dormir!!
- Desculpe dar uma má notícia a essa hora. (risos)
- A notícia mais perfeita do mundo.
- :)
- E melhor ainda que...
- Que...?
- Não haverá despedida de solteiro! :)
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Quinta-feira.
- Hoje sou um acumulado de sonhos e visões.
- Hoje?
- Sim.
- E ontem?
- Ontem era um acumulado de sonhos e visões que ainda não sabia disso.
- E amanhã?
- É sexta-feira.
- ...
- Não, falando sério. Amanhã é sexta-feira.
- E daí?
- Sexta-feira é dia de desafiar o impossível.
- Pra mim é no domingo. Quando chega de noite, eu tento fazer com que volte para sábado.
- Por que? Segunda-feira é um sorriso.
- Ah, é. Puxa, sorriso colgate!
- Segunda-feira é o sorriso que revela a eternidade. Ela só se torna um peso quando nós fazemos escolhas erradas.
- Qual o problema da eternidade ficar fixa no sábado?
- O problema? É que o segredo da eternidade está nos ciclos. Me diga: por que os números são infinitos?
- Essa é fácil: tem um tiozinho que fica sempre inventando novos números.
- Se eu jurar que já pensei isso quando era pequeno, tu acredita?
- Óbvio, todo mundo algum dia já pensou isso.
- Os números são infinitos porque sempre que o fim chega, o ciclo recomeça com uma variável a mais. Partimos do 1, percorremos toda a trilha até o 9, onde encontramos o FIM. O 9 representa o fim da trilha, não há mais para onde ir, tudo está consumado. Então o que acontece? Voltamos ao 1, e iniciamos um novo ciclo junto com ele. Desta forma, o 10 é o mesmo que zero, só que está com o carimbo do segundo ciclo.
- Isso não advoga contra a eternidade fixa no sábado.
- A segunda-feira é o carimbo do novo ciclo. A cada segunda-feira, nós temos um algarismo a mais, temos uma casa a mais. Jamais somos os mesmos a cada segunda-feira.
- Eu não quero deixar de ser a mesma, estaria tudo bem.
- Tu diz isso hoje.
- Sempre disse, desde pequena.
- Mentira...
- Eu não lembro, mas certo que eu dizia.
- Não dizia.
- Se não dizia, era porque não tinha capacidade para tal.
- Exatamente. Para que tu te tornasse capaz de avaliar as segundas-feiras, tu precisaste receber vários algarismos a mais.
- E isso por acaso faz sentido? Receber algarismos para depois concluir que não os quero mais?
- Não sei... Os próximos algarismos é que irão dizer.
- Não quero mais nenhum!
- A partir de quando?
- DE AGORA!
- São meia-noite e cinco. Já é sexta-feira.
- Tanto faz!
- É dia de desafiar o impossível.
- Eu desafio a segunda-feira a nunca mais acontecer!
- A gente se conheceu numa segunda-feira. Lembra?
- Lembro. Mas aquela foi legal.
- E tu sabia que seria?
- Não.
- :)
- Larga de ser bobalhão. E tu, vai desafiar o que?
- A quinta-feira.
- Hoje?
- Sim.
- E ontem?
- Ontem era um acumulado de sonhos e visões que ainda não sabia disso.
- E amanhã?
- É sexta-feira.
- ...
- Não, falando sério. Amanhã é sexta-feira.
- E daí?
- Sexta-feira é dia de desafiar o impossível.
- Pra mim é no domingo. Quando chega de noite, eu tento fazer com que volte para sábado.
- Por que? Segunda-feira é um sorriso.
- Ah, é. Puxa, sorriso colgate!
- Segunda-feira é o sorriso que revela a eternidade. Ela só se torna um peso quando nós fazemos escolhas erradas.
- Qual o problema da eternidade ficar fixa no sábado?
- O problema? É que o segredo da eternidade está nos ciclos. Me diga: por que os números são infinitos?
- Essa é fácil: tem um tiozinho que fica sempre inventando novos números.
- Se eu jurar que já pensei isso quando era pequeno, tu acredita?
- Óbvio, todo mundo algum dia já pensou isso.
- Os números são infinitos porque sempre que o fim chega, o ciclo recomeça com uma variável a mais. Partimos do 1, percorremos toda a trilha até o 9, onde encontramos o FIM. O 9 representa o fim da trilha, não há mais para onde ir, tudo está consumado. Então o que acontece? Voltamos ao 1, e iniciamos um novo ciclo junto com ele. Desta forma, o 10 é o mesmo que zero, só que está com o carimbo do segundo ciclo.
- Isso não advoga contra a eternidade fixa no sábado.
- A segunda-feira é o carimbo do novo ciclo. A cada segunda-feira, nós temos um algarismo a mais, temos uma casa a mais. Jamais somos os mesmos a cada segunda-feira.
- Eu não quero deixar de ser a mesma, estaria tudo bem.
- Tu diz isso hoje.
- Sempre disse, desde pequena.
- Mentira...
- Eu não lembro, mas certo que eu dizia.
- Não dizia.
- Se não dizia, era porque não tinha capacidade para tal.
- Exatamente. Para que tu te tornasse capaz de avaliar as segundas-feiras, tu precisaste receber vários algarismos a mais.
- E isso por acaso faz sentido? Receber algarismos para depois concluir que não os quero mais?
- Não sei... Os próximos algarismos é que irão dizer.
- Não quero mais nenhum!
- A partir de quando?
- DE AGORA!
- São meia-noite e cinco. Já é sexta-feira.
- Tanto faz!
- É dia de desafiar o impossível.
- Eu desafio a segunda-feira a nunca mais acontecer!
- A gente se conheceu numa segunda-feira. Lembra?
- Lembro. Mas aquela foi legal.
- E tu sabia que seria?
- Não.
- :)
- Larga de ser bobalhão. E tu, vai desafiar o que?
- A quinta-feira.
sexta-feira, 7 de março de 2008
Fechado
- Olá, Diabo.
- Bleh! Que queres?
- Vim conversar.
- Não tenho interesse.
- Quanta deselegância em negligenciar uma conversa.
- Bleh! Que queres?
- Negociar.
- Vamos! Quer um café?
- Sim, por favor. Com leite.
- Não tem leite.
- Eu sei, por isso pedi.
- Que queres negociar?
- Minha vida.
- Que queres em troca?
- Que me coloques no governo do Brasil.
- Posso, mas que queres?
- Salvar os desgraçados.
- Imbecil! Tens mais o que fazer neste cargo.
- Não te cabe julgar, Diabo. Negócio fechado?
- Não vales a merda que meus vermes cagam. Caia fora.
- Oi.
- Olá, rapaz.
- Tu és anjo?
- Sim, sou.
- Cadê as asas?
- Que asas?
- Anjo tem asa.
- Anjos podem voar. Isso não significa ter asas, embora alguns irmãos de hierarquia maior realmente tenham.
- Por que eles têm?
- Alcançaram um nível de liberdade espiritual tão alto, que as asas representam seu poder.
- Entendo.
- Me chamaste a quê, meu irmão?
- Quero negociar.
- Não precisa. Tens mérito suficiente para pedir.
- Quero algo grande. Preciso negociar, sei disso.
- Pois diga, por favor.
- Quero o governo do Brasil.
- Realmente grande. Tenho três exigências.
- Diga, Anjo.
- Encontrarás um ex-presidiário liberto há 1 dia, e farás ele reacreditar na vida.
- Onde encontrarei, Anjo?
- Eu enviarei. Segunda exigência: alguém prestes a cometer suicídio te contará um problema. Deverás convencê-la de que a vida é superior ao problema.
- Eu o farei, anjo. E a terceira?
- Deverás renunciar a um amor em nome de tua Causa. Tua mente gritará contra e teu coração se fará vítima. Deverás renunciar.
- E se não puder?
- Desfaz-se o pedido.
- Mais alguma exigência, Anjo?
- Hm.. Para que queres chegar ao governo do Brasil?
- Para salvar os desgraçados.
- Cumpra as exigências e te ajudarei.
- Fechado.
- Bleh! Que queres?
- Vim conversar.
- Não tenho interesse.
- Quanta deselegância em negligenciar uma conversa.
- Bleh! Que queres?
- Negociar.
- Vamos! Quer um café?
- Sim, por favor. Com leite.
- Não tem leite.
- Eu sei, por isso pedi.
- Que queres negociar?
- Minha vida.
- Que queres em troca?
- Que me coloques no governo do Brasil.
- Posso, mas que queres?
- Salvar os desgraçados.
- Imbecil! Tens mais o que fazer neste cargo.
- Não te cabe julgar, Diabo. Negócio fechado?
- Não vales a merda que meus vermes cagam. Caia fora.
- Oi.
- Olá, rapaz.
- Tu és anjo?
- Sim, sou.
- Cadê as asas?
- Que asas?
- Anjo tem asa.
- Anjos podem voar. Isso não significa ter asas, embora alguns irmãos de hierarquia maior realmente tenham.
- Por que eles têm?
- Alcançaram um nível de liberdade espiritual tão alto, que as asas representam seu poder.
- Entendo.
- Me chamaste a quê, meu irmão?
- Quero negociar.
- Não precisa. Tens mérito suficiente para pedir.
- Quero algo grande. Preciso negociar, sei disso.
- Pois diga, por favor.
- Quero o governo do Brasil.
- Realmente grande. Tenho três exigências.
- Diga, Anjo.
- Encontrarás um ex-presidiário liberto há 1 dia, e farás ele reacreditar na vida.
- Onde encontrarei, Anjo?
- Eu enviarei. Segunda exigência: alguém prestes a cometer suicídio te contará um problema. Deverás convencê-la de que a vida é superior ao problema.
- Eu o farei, anjo. E a terceira?
- Deverás renunciar a um amor em nome de tua Causa. Tua mente gritará contra e teu coração se fará vítima. Deverás renunciar.
- E se não puder?
- Desfaz-se o pedido.
- Mais alguma exigência, Anjo?
- Hm.. Para que queres chegar ao governo do Brasil?
- Para salvar os desgraçados.
- Cumpra as exigências e te ajudarei.
- Fechado.
domingo, 2 de março de 2008
Minimalista
- Eu sou minimalista, por todas as pequenas e grandes coisas que um dia já representaram algo que fazia parte de mim. Essas coisas pareciam simples, pareciam fazer referência à simples objetos, mas esses objetos faziam referência à mim. Sou minimalista pela força que possuem as ondas, pelo poder que possui um "sim, te ajudo". Serei assim, minimalista, enquanto os dias ousarem nascer com um sol que esconde a complexidade de ser uma estrela como todas as outras que nós enxergamos à noite. Serei... E antes que desistas de me ouvir, te digo que serei minimalista enquanto teus olhos continuarem a me mostrar um eterno infinito resumido em 2 cores. Tenho certeza que o paraíso é plenamente minimalista.
- Deu?
- Sim.
- Deu?
- Sim.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Apegos
- Sabe os bichos cabeludos?
- Sim, tipo lagartas pretas.
- Isso!
- Que tem?
- Já viu algum filhote?
- Como assim?!
- Já viu algum filhote de bicho cabeludo?
- Não, sempre eram grandinhos.
- Ok. E já tocou em algum?
- Claro que não! Eles queimam...
- Como sabe?
- Minha mãe me falou.
- Hm..
- O que?
- Entendeu?
- Ahn... Não, o quê?
- Tu nunca viu um filhote. Não existem bichos sem filhotes.
- É, realmente nunca vi um filhote disso.
- E nunca encostou em algum...
- Claro que não!
- Nunca viu um filhote e não sabe se queimam. E aposto que quem te disse que queimam, nunca encostou neles. E quem disse para quem te disse, tampouco. E ninguém sabe de onde eles vem.
- ...
- Assim nascem os apegos.
- Sim, tipo lagartas pretas.
- Isso!
- Que tem?
- Já viu algum filhote?
- Como assim?!
- Já viu algum filhote de bicho cabeludo?
- Não, sempre eram grandinhos.
- Ok. E já tocou em algum?
- Claro que não! Eles queimam...
- Como sabe?
- Minha mãe me falou.
- Hm..
- O que?
- Entendeu?
- Ahn... Não, o quê?
- Tu nunca viu um filhote. Não existem bichos sem filhotes.
- É, realmente nunca vi um filhote disso.
- E nunca encostou em algum...
- Claro que não!
- Nunca viu um filhote e não sabe se queimam. E aposto que quem te disse que queimam, nunca encostou neles. E quem disse para quem te disse, tampouco. E ninguém sabe de onde eles vem.
- ...
- Assim nascem os apegos.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
O peso
- Essa musica... Ela me dói.
- Quer uma aspirina?
- Dã. Não brinque com isso, dói mesmo.
- Então por que escutas?
- Porque eu gosto muito dela.
- Hm, entendo. Então tens uma âncora.
- Uma âncora?
- Sim, de navio.
- Eu sei o que é âncora, mas explica melhor.
- O que acontece com um navio ancorado?
- Fica parado, oras.
- Fica parado, ou se ativar os motores, anda muito lentamente.
- Sim.
- Sempre que uma musica que gostamos nos dói, é porque estamos ancorados. Tem alguma coisa nos prendendo, tem alguma coisa pesando demais.
- Hm.
- Tu não vai ir muito longe enquanto não desancorar. Vai ficar sempre dando voltas no mesmo quilômetro quadrado, e cada vez que uma onda aparecer, ao invés de surfar nela com liberdade e boa disposição, a âncora vai pesar, a onda vai passar... E tu vai ficar.
- Como desancorar?
- Não sei. Só tu pode saber. Só tu sabe o peso disso, e só tu sabe como se desfazer dela.
- Ou deveria saber.
- Não se preocupe, uma hora vai fazer sentido.
- Espero que sim.
- Quando puder ouvi-la sem sangrar, estarás pronto.
- Quer uma aspirina?
- Dã. Não brinque com isso, dói mesmo.
- Então por que escutas?
- Porque eu gosto muito dela.
- Hm, entendo. Então tens uma âncora.
- Uma âncora?
- Sim, de navio.
- Eu sei o que é âncora, mas explica melhor.
- O que acontece com um navio ancorado?
- Fica parado, oras.
- Fica parado, ou se ativar os motores, anda muito lentamente.
- Sim.
- Sempre que uma musica que gostamos nos dói, é porque estamos ancorados. Tem alguma coisa nos prendendo, tem alguma coisa pesando demais.
- Hm.
- Tu não vai ir muito longe enquanto não desancorar. Vai ficar sempre dando voltas no mesmo quilômetro quadrado, e cada vez que uma onda aparecer, ao invés de surfar nela com liberdade e boa disposição, a âncora vai pesar, a onda vai passar... E tu vai ficar.
- Como desancorar?
- Não sei. Só tu pode saber. Só tu sabe o peso disso, e só tu sabe como se desfazer dela.
- Ou deveria saber.
- Não se preocupe, uma hora vai fazer sentido.
- Espero que sim.
- Quando puder ouvi-la sem sangrar, estarás pronto.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Esperança
- Onde as moscas morrem?
- Eu não sei nem onde as pessoas morrem.
- Mas as pessoas a gente encontra mortas, quando morrem. E as moscas, onde morrem?
- Não dá para encontrá-las pois são muito pequenas.
- Ah, conta outra. Todo dia vejo no mínimo umas 6 ou 7 moscas rondando a sala no almoço. E nunca mais vejo elas. Não vejo no chão, na mesa, em lugar nenhum. Dizem que as moscas não duram mais que algumas horas. Tinha que ter uma multidão de moscas aqui pelo chão. Onde elas estão?
- As pessoas varrem, né?
- EU varro. E nunca vi uma única mosca no chão.
- Olha, sabe que fiquei curioso agora.
- Que estranho, né?
- Sim, muito. Eu nunca vi uma mosca morta, nunca.
- É como esperança.
- Quê?!
- Morre tantas vezes, mas nunca aparece morta.
- Nossa, é verdade.
- Mas tem a diferença de que a esperança não precisa necessariamente morrer tão cedo.
- Que horas são?
- 14, por quê?
- Nada. Tenho que ir embora às 16.
- Eu não sei nem onde as pessoas morrem.
- Mas as pessoas a gente encontra mortas, quando morrem. E as moscas, onde morrem?
- Não dá para encontrá-las pois são muito pequenas.
- Ah, conta outra. Todo dia vejo no mínimo umas 6 ou 7 moscas rondando a sala no almoço. E nunca mais vejo elas. Não vejo no chão, na mesa, em lugar nenhum. Dizem que as moscas não duram mais que algumas horas. Tinha que ter uma multidão de moscas aqui pelo chão. Onde elas estão?
- As pessoas varrem, né?
- EU varro. E nunca vi uma única mosca no chão.
- Olha, sabe que fiquei curioso agora.
- Que estranho, né?
- Sim, muito. Eu nunca vi uma mosca morta, nunca.
- É como esperança.
- Quê?!
- Morre tantas vezes, mas nunca aparece morta.
- Nossa, é verdade.
- Mas tem a diferença de que a esperança não precisa necessariamente morrer tão cedo.
- Que horas são?
- 14, por quê?
- Nada. Tenho que ir embora às 16.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
A verdade
- Bem me quer... Mal me quer...
- Pára com isso, deixa a florzinha em paz.
- Bem me quer... Não estou judiando dela, as flores não se importam. Mal me quer...
- Bom, eu se fosse flor não gostaria de ter minhas pétalas arrancadas.
- Bem me quer... Faz parte do destino delas.
- O destino delas é ser um oráculo instantâneo?
- Mal me quer... Uma mensageira da Vida.
- Cai na real, isso não pode ser verdadeiro.
- Bem me quer... Claro que é verdadeiro. Mal me quer...
- Esquece isso, vai. Vamos comprar picolé?
- Bem me quer... Daqui a pouquinho. Mal me quer...
- Que bobagem, pára com isso.
- Bem me quer.
- ...
- Que medo tu tem de dizer a verdade, hein?
- Pára com isso, deixa a florzinha em paz.
- Bem me quer... Não estou judiando dela, as flores não se importam. Mal me quer...
- Bom, eu se fosse flor não gostaria de ter minhas pétalas arrancadas.
- Bem me quer... Faz parte do destino delas.
- O destino delas é ser um oráculo instantâneo?
- Mal me quer... Uma mensageira da Vida.
- Cai na real, isso não pode ser verdadeiro.
- Bem me quer... Claro que é verdadeiro. Mal me quer...
- Esquece isso, vai. Vamos comprar picolé?
- Bem me quer... Daqui a pouquinho. Mal me quer...
- Que bobagem, pára com isso.
- Bem me quer.
- ...
- Que medo tu tem de dizer a verdade, hein?
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
O tempo e o valor
- Aquela nota de 200 cruzeiros me fascinava.
- Qual?
- Uma de 1987, por aí. Era verdinha, com aquele rosto místico e atrás tinha uma figura estranha.
- Não lembro muito bem. 200 cruzeiros era bastante?
- Quando meu pai me deu a minha primeira nota, valia um monte! Eu a guardei na minha gaveta especial. Todos os dias eu abria a gaveta umas 4 ou 5 vezes só pra olhar pra nota.
- Não teria sido mais útil gastá-la?
- Útil, talvez. Mas eu estava apaixonado por aquela nota. Eu me sentia rico, gostava das cores dela, gostava daquele rosto cego com alfaces em cima da orelha. Era algo tão misterioso e valioso...
- Não vai me dizer que guarda ela até hoje.
- Não, claro que não.
- Seria estranho, hehe.
- Quando meu pai observou que eu havia guardado a nota ao invés de gastá-la, ele disse que me daria uma nota por semana.
- Uma nota de 200 por semana? Puxa!
- Não, não éramos ricos. Ele disse que daria uma nota por semana, mas não disse o valor delas. E pouco me importava, eu nem sabia quanto cada uma valia. Eu media o valor delas pela cor e pelas figuras.
- E que notas ganhava?
- Na maioria das vezes, de 10. Às vezes, de 50, que era uma nota ainda mais bonita e misteriosa.
- E o que dava pra comprar com elas?
- Não faço idéia. Eu não gastava, eu apenas guardava. Todas. Em alguns meses eu tinha uma quantidade tão enorme de notas, que eu passava minutos contando-as. Bem, eu não sabia contar ainda, mas ia folhando-as como se estivesse a contar os lucros do dia.
- Que bonitinho.
- Mas chegou um dia em que eu mal conseguia segurar as notas, era um bolo enorme. Era bonito de ver, era uma fortuna. Uma fortuna nas minhas mãos! Então decidi que havia chegado o momento de ir a uma loja de brinquedos e comprar o brinquedo mais caro que eles pudessem oferecer.
- Tanta economia pra gastar assim?
- Ah, eu já estava cansado de guardar dinheiro. Já estava começando a enjoar de ser rico, e achei que era hora de ser pobre e feliz com algum brinquedo sensacional. Pedi que me levassem na loja do bairro, ao lado do estádio Olímpico, onde morávamos. A loja de brinquedos da rua Eurico Lara, que nem existe mais. Entrei lá de peito estufado, com o bolão de dinheiro em mãos para mostrar que estava disposto a gastar.
- Haha, imagino a cara das vendedoras.
- Comecei a investigar os brinquedos mais atraentes da loja, e pedi que meu pai contasse pra mim quanto eu tinha. E quando eu vislumbrava enlouquecidamente um avião de controle remoto, que era quase maior que eu, recebi a assustadora notícia de que aquele avião custava 50 vezes mais do que eu possuía.
- Ah, mas esses aviões são caros mesmo.
- É, mas eu comecei a ir de brinquedo em brinquedo, apontando um por um. "Caro demais". "Não dá". "Piorou". Eu não podia comprar absolutamente nenhum brinquedo daquela vasta loja.
- O que aconteceu?
- Dinheiro parado na mão de uma criança, numa época em que a inflação chegava a 90% ao ano. Eu passei cerca de 1 ano e meio juntando. Meu dinheiro desvalorizou quase 100%.
- Coitadinho. O que acabou comprando?
- Essa ampulheta com areia azul.
- Hm. Tu sempre carrega isso na mochila.
- Ocorreu o efeito inverso do meu dinheiro. Esse objeto valorizou com o tempo, e hoje é um tesouro de valor inestimável. E agora ela é tua.
- Minha? Tá me presenteando?
- Estou, pega.
- Vou cuidar bem dela. Mas... Por quê?
- Daqui 10 anos, devolva-me 900% valorizada.
- Qual?
- Uma de 1987, por aí. Era verdinha, com aquele rosto místico e atrás tinha uma figura estranha.
- Não lembro muito bem. 200 cruzeiros era bastante?
- Quando meu pai me deu a minha primeira nota, valia um monte! Eu a guardei na minha gaveta especial. Todos os dias eu abria a gaveta umas 4 ou 5 vezes só pra olhar pra nota.
- Não teria sido mais útil gastá-la?
- Útil, talvez. Mas eu estava apaixonado por aquela nota. Eu me sentia rico, gostava das cores dela, gostava daquele rosto cego com alfaces em cima da orelha. Era algo tão misterioso e valioso...
- Não vai me dizer que guarda ela até hoje.
- Não, claro que não.
- Seria estranho, hehe.
- Quando meu pai observou que eu havia guardado a nota ao invés de gastá-la, ele disse que me daria uma nota por semana.
- Uma nota de 200 por semana? Puxa!
- Não, não éramos ricos. Ele disse que daria uma nota por semana, mas não disse o valor delas. E pouco me importava, eu nem sabia quanto cada uma valia. Eu media o valor delas pela cor e pelas figuras.
- E que notas ganhava?
- Na maioria das vezes, de 10. Às vezes, de 50, que era uma nota ainda mais bonita e misteriosa.
- E o que dava pra comprar com elas?
- Não faço idéia. Eu não gastava, eu apenas guardava. Todas. Em alguns meses eu tinha uma quantidade tão enorme de notas, que eu passava minutos contando-as. Bem, eu não sabia contar ainda, mas ia folhando-as como se estivesse a contar os lucros do dia.
- Que bonitinho.
- Mas chegou um dia em que eu mal conseguia segurar as notas, era um bolo enorme. Era bonito de ver, era uma fortuna. Uma fortuna nas minhas mãos! Então decidi que havia chegado o momento de ir a uma loja de brinquedos e comprar o brinquedo mais caro que eles pudessem oferecer.
- Tanta economia pra gastar assim?
- Ah, eu já estava cansado de guardar dinheiro. Já estava começando a enjoar de ser rico, e achei que era hora de ser pobre e feliz com algum brinquedo sensacional. Pedi que me levassem na loja do bairro, ao lado do estádio Olímpico, onde morávamos. A loja de brinquedos da rua Eurico Lara, que nem existe mais. Entrei lá de peito estufado, com o bolão de dinheiro em mãos para mostrar que estava disposto a gastar.
- Haha, imagino a cara das vendedoras.
- Comecei a investigar os brinquedos mais atraentes da loja, e pedi que meu pai contasse pra mim quanto eu tinha. E quando eu vislumbrava enlouquecidamente um avião de controle remoto, que era quase maior que eu, recebi a assustadora notícia de que aquele avião custava 50 vezes mais do que eu possuía.
- Ah, mas esses aviões são caros mesmo.
- É, mas eu comecei a ir de brinquedo em brinquedo, apontando um por um. "Caro demais". "Não dá". "Piorou". Eu não podia comprar absolutamente nenhum brinquedo daquela vasta loja.
- O que aconteceu?
- Dinheiro parado na mão de uma criança, numa época em que a inflação chegava a 90% ao ano. Eu passei cerca de 1 ano e meio juntando. Meu dinheiro desvalorizou quase 100%.
- Coitadinho. O que acabou comprando?
- Essa ampulheta com areia azul.
- Hm. Tu sempre carrega isso na mochila.
- Ocorreu o efeito inverso do meu dinheiro. Esse objeto valorizou com o tempo, e hoje é um tesouro de valor inestimável. E agora ela é tua.
- Minha? Tá me presenteando?
- Estou, pega.
- Vou cuidar bem dela. Mas... Por quê?
- Daqui 10 anos, devolva-me 900% valorizada.
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