quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Telefone.

- Estou com um problema.
- Tu tá cheio de problemas, cara.
- Pára de palhaçada, não consegue entender uma frase séria?
- Mas eu também falei sério.
- Não to cheio de problemas.
- Tá bom, relaxa bruxo. Falaí, o que há?
- É o telefone.
- Tá sem crédito? Te empresto grana.
- Não to falando do celular.
- Ah, cortaram tua linha residencial? Eu te empresto uma graninha cara.
- NINGUÉM CORTOU NADA.
- Então o que? O que tem o telefone?
- Não to conseguindo discar.
- ?!
- ...
- Tu não disse que tinha largado o fumo?
- Sim, por que?
- Sei lá, tá parecendo que fumou.
- Não. Eu não consigo discar porque a partir dos primeiros 4 digitos, eu mudo o destino.
- Como assim, cara?
- Eu digito os 4 primeiros dígitos, e aqueles barulhinhos de quando apertamos cada tecla, parecem tanto começar uma musica... Cada vez que vou telefonar, ao invés de terminar o número, eu tento continuar a musica que pareceu começar.
- Hehehehe!!!
- ?
- O que? É sério?
- Sim.
- Caraca, bruxo. Mas não consegue resistir?
- Não. Mas não é só isso.
- SÓ? Tu tá completamente pirado e ainda diz "só" ?!
- Tem uma música que eu gosto muito.
- Ah bom, isso sim. Eu também, sabe aquela do Iron Maiden, do album...
- Eu to falando do telefone.
- Que?
- Musica. Musica do telefone.
- Que musica?
- Uma que eu aprendi a fazer nas teclas. Uma vez eu fui discar, e fiz essa canção.
- E como ela é?
- É linda. Mas...
- Mas o que?
- Tem outro problema.
- VIU? E depois fica brabo comigo quando eu digo que tá cheio de problemas!
- Na primeira vez que fiz essa música, achei tão linda que não desliguei o telefone. Fiquei parado, inerte, hipnotizado. Fui interrompido por uma voz.
- Hehehe que sarro, esqueceu de desligar antes de completar a chamada. E aí, quem era?
- Não sei. Mas a voz era mais bonita que a própria música.
- Aaaah malandrinhooo, está de namorico! Heeehe
- Dá pra gritar mais alto?
- O que? Gritar aqui?
- Não, não. Esquece. Não estou de "namorico". Estou com um problema.
- Quer cigarro?
- Não. A cada vez que vou digitar um número no telefone, eu tento fazer uma música que seja mais bela do que aquela. Não consigo mais discar.
- E por que quer isso?
- Porque preciso.
- Precisa do que, bagual?
- Preciso de uma música mais bonita que aquela.
- PRA QUE??
- Pra esquecer aquela voz.
- ...
- ...
- Tu fala com ela?
- Ontem eu falei.
- Ontem? E desde quando tem ligado pra ela?
- ...
- Só ontem, bagual?! E falou o que?
- Disse oi.
- É um bom começo, hehehe.
- E em seguida digitei a música no teclado.
- PUTA MERDA. Tinha que estragar tudo no primeiro encontro? Parece que bebe.
- Ela não entendeu a música, e se irritou, ficando em silêncio.
- Mas é óbvio que ela não entendeu, burrão, esse sonzinho dos botões do telefone variam de aparelho pra aparelho. Não que ela fosse entender caso o som fosse o mesmo, mas ainda pior já que não era.
- Como sabe disso?
- Já trabalhei com suporte de telefonia.
- Preciso criar uma nova música.
- Eu tenho a solução.
- Tu nunca tem soluções.
- Affe, claro que tenho.
- Quero ver.
- Telefone sem fio.
- ?
- No telefone sem fio, o teclado é nele mesmo. Tu não vai conseguir discar e ouvir direito o som da tecla ao mesmo tempo. Vai ter que discar como gente normal.
- Então quer dizer que ela não ouviu a música de verdade?
- Não, não ouviu, e esquece isso cara. Você não precisa mostrar isso pra ela. Você não precisa fazer música no telefone.
- ...
- Pra que quer tanto fazer musica no telefone?
- Porque foi o único instrumento que consegui tocar.
- Uma criança com um pianinho de brinquedo faz igual ou melhor.
- Mas não escutaria aquela voz.
- Era tão bonita assim?
- Sim.
- Qual o número dela?
- Pra que quer saber??
- Quero tentar fazer a musica.
- Não, você quer falar com ela!
- Pára seu bagual. Não sou teu amigo então?
- ...
- Agora eu quero ouvir essa música. Deixa eu tentar aqui cara.
- *suspiro*. Ok, é esse.


- Hehe, cara, não é que a música é massa?! :O
- Te disse.
- Mas bruxo...
- Que?
- Esse número não existe.

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