quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Poesia do tempo

- Por favor, me dá um cigarro.
- Ué, mas tu não fuma.
- Hoje eu preciso.
- Por que?
- O tempo está lento.
- Hum?!
- O tempo. O tempo está devagar.
- Olha, no meu relógio continua igual.
- Teu relógio é um cronômetro que reseta quando alcança o 24, não é o tempo.
- Eu não quis dizer isso. Mas que negócio é esse de "está lento" ? O tempo não muda.
- O tempo é o nosso estado. De acordo com o que sentimos, o tempo será diferente.
- Como assim?
- Um estado de euforia faz com que o tempo se acelere. Horas podem caber dentro de minutos. Um estado de angústia faz com que o tempo se torne pesado, e minutos podem parecer dias.
- Nossas emoções ditam o nosso tempo?
- O tempo não existe coletivamente. Podem sincronizar cronômetros nos pulsos das pessoas, e isso causa a impressão de que todos temos o mesmo tempo. Mas cada um está com um tempo diferente...
- Não compreendo. Me diz, tu bebeu?
- O tempo é a velocidade com que percebemos as coisas acontecendo. Quanto mais rápido for, mais felizes estamos. Nos presídios, cada dia vale por três. Nas praias turísticas, cada dia vale por meio.
- Hm... Estou entendendo. As coisas que eu percebo acontecendo ao meu redor durante 5 minutos são diferentes das coisas que tu percebe...
- Considere o tempo como um catavento no peito de cada pessoa. Cada catavento gira com sua velocidade.
- ...
- Se for bem rápido, rápido o bastante, o catavento deixa de existir. Não conseguimos mais enxergá-lo a girar.
- A aula já vai começar. Nem vi o tempo passar enquanto conversávamos.
- Ainda falta muito.
- Ei, e a Lívia? Falou com ela?
- Por favor, me dê um cigarro.

4 comentários:

Unknown disse...

Por favor, um isqueiro.

Anônimo disse...

Cada vez melhor.
:)

Vitor disse...

pois eu acho que...

opa, estou atrasado, me falta tempo
outra hora comento!

Heidinha disse...

"- Por favor, me dá um cigarro.
- Ué, mas tu não fuma.
- Hoje eu preciso."

pensei que isso só acontecesse comigo.